VIOLÊNCIA NO AMBIENTE CORPORATIVO

O meio ambiente corporativo é violento.

Não tem “mas, veja bem” “pipippi, popopó“, é violento e ponto.

Dados do Ministério Público do Trabalho sobre assédio moral e sexual no Brasil em 2023:

Assédio Moral:
Janeiro a julho: 8.458 denúncias. O dobro em relação ao período passado,com 4438 casos.

Assédio Sexual:
De 393 casos entre jan/Jul-22 para 831 no mesmo período em 2023. Os números mais do que dobraram.

Os dados repassados pelo MPT a diversos veículos da mídia apontam o crescimento destes valores em todo o país.

Isso é puro suco de violência, sem metáfora ou subjetividades, só agressão, crueldade e abuso de poder interno. (Não é) Simples assim, é 2+2 igual a 4, sem espaço para retórica ou discurso romantizador.

Como escrevi no Manifesto Monkey S/A e em várias passagens do livro homônimo, que usa do humor
e de personagens para tratar o assunto, o universo corporativo é um microcosmo do mundo exterior,
um recorte da nossa coletividade. E irmão, parceira, sabemos a bagaceira de injustiça, desigualdade, fogueira de vaidades,egocentrismo, competitividade, preconceitos, desarmonia que é a nossa bela sociedade do espetáculo.

Você realmente acha que toda essa belezura não é espelhada no meio empresarial?

Que frameworks modernosos, mbas e especializações, uma aura e um glamour de racionalidade e eficiência planilhística tornam os bons e velhos seres humanos dentro dessa organização mais evoluidinhos moralmente?

Torna não, parcerinho, irmãzinha. Na verdade a coisa fica ainda pior devido a:

1) Relações Hierárquicas

O aproveitamento desta situação pelos que estão em patamares acima nesta cadeia alimentar. O abuso do poder que pode ser gerado por um cargo mais elevado é a porta de entrada padrão para o descabimento do assédio. Sim, quanto mais alta a patente hierárquica coroporativa, maior o poder e devastação desta prática nefasta aos subordinados, porém, ela não ocorre somente advindas de altos escalões ou determinados setores ou atividades. No no no no jovem padawan, ele ocorre também nos cargos mais baixo. basta existir qualquer tipo de subordinação e a mesa estará posta.

2) Dependência Financeira

Pessoas precisam do salário, do emprego. O abandono não é uma questão simplória. “Ainnn, se não está bom por que você não sai, se não tá satisfeito, mete o pé!“. Isso é cartesiano assim quando se existe poucas responsabilidades e um acesso fácil, rápido, seja por contatos, educação de alto gabarito, dinheiro em conta e um quadro de segurança econômica e psicológica para resguardar-se e ter toda essa independência.

E sabemos que boa parte da massa trabalhadora não atende a estes requisitos. Ainda que, temporariamente, por necessidade, boa parte dos funcionários se encontram submetidos a tais violências por pura necessidade. O colégio do filho, o aluguel, a comida na mesa, o plano de saúde dos pais idosos, enfim, não julgue e nem reverta a culpa para quem é a vítima.

3) Sistema Manipulável

Olha, salvo empresas muito, muito, mas muito acima da régua em cultura e execução concreta de tudo aquilo que é pregado sobre valores e regras nos manuais e retórica corporativa pra inglês ver, o sistema (compliance, governança, chame do que quiser) que deveria ser isento, generalista e independente, funciona sob e interferência de fatores internos como poder do cargo, politicagens, influência, favores, medo, falta de vontade e todo aquele combo de variáveis humanas sombrias padrão existente nas empresas quando o assunto são as relações de poder.

O sistema acaba por se tornar falho, ou, no mínimo, imperfeito devido a possibilidade dos elementos que o compõem e que deveriam seguir suas diretrizes, serem os mesmo que podem manipular tais procedimentos de acordo com seus interesses pessoais e profissionais.

Os exemplos disto são inúmeros. Uma pesquisada rápida no Google, grupos de discussão ou redes sociais e você terá uma série de histórias de acobertamento, processos parados, nem iniciados, nenhuma sanção ao agressor ou a famosa orientação para “deixar pra lá, deixar isso quieto, fulano é poderoso…“.

Né não, Érreagá?

Aliás, o papel do Érreagá em relação aos assédios sofridos pelos funcionários é um capítulo a parte sobre esse tema. Mas, os dados abaixo de uma pesquisa do site Vagas.com dão uma palhinha sobre a crítica:

De acordo com levantamento do Vagas.com, mais da metade dos trabalhadores (52%) já sofreu algum tipo de assédio moral nas empresas. Destes, 87,5% não denunciaram o ocorrido, sendo a principal razão o medo de perder o emprego (39,4%). Receio de represálias (31,6%), vergonha (11%) e medo de, apesar de ser a vítima, ser considerado o culpado (8,2%) também estão entre as principais

Hum, será que as empresas estão, além do blá blá blá, gerando estruturas de segurança psicológica reais a estas pessoas? Claro, nem todas as empresas do estudo acima possuem um setor de recursos humanos ou algo estruturado, mas, ainda assim, os números dão uma pista sobre o que pode tá acontecendo.

Ou não.

Corta pra um causo meu.

Além do meu projeto Monkey S/A, na “vida corporativa real” respondo pelo marketing de uma instituição de ensino superior e sou especialista em design instrucional e tecnologias educacionais e participo na criação de projetos de cursos corporativos diversos que se valem do EAD para treinar os funcionários.

Combate ao Assédio” foi um dos cursos em que trabalhei para uma empresa. Não era um curso obrigatório, porém, valia horas e era um pré-requisito aos atuais gestores e futuros líderes a realização do curso na plataforma interna. Muitas empresas adotam esta política, assim como, também, e de computar horas de cursos internos/universidade corporativa para, ao se alcançar um total de tempo, transformar esse esforço de capacitação em acréscimo salarial.

Eis que, ao longo da produção do curso, em conversa com uma funcionário, ele me disse que jamais se matricularia, somente se fosse obrigado. Motivo: o setor que patrocinou e levou adiante o projeto internamente, simplesmente era o departamento com mais casos de assédio moral na empresa, fato de conhecimento de todos.

Punk, hein? Mais um dos casos de abismo entre prática e discurso empresarial.

Como canta o Criolo :”Fique atento, fique atento” e não baixe a guarda. Os números sentiram o gostinho do crescimento e são indiferentes a segmentos, setor, porte ou natureza da empresa para prosseguirem em sua marcha praticamente inexorável. Mas, lembre-se: sempre que possível:

Fogo nos assediadores!

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