Microondas Man é o terceiro capítulo do livro Monkey S/A, que, na verdade é composto de várias histórias interdependentes, cujos personagens e cenários, de alguma forma e em algum ponto da obra, acabam se conectando e expandindo o universo de fantasia corporativa (o Monkeyverso) deste introspectivo sonhador que vos escreve.
Na história, uma boa e velha jornada de vingança de um executivo que cai nas maquinações internas da corporação, acaba resultando na descoberta de forças e poderes bem maiores e que sempre estiverem debaixo de seu nariz.
Antes do clímax, do pau quebrar, nosso herói (ou anti-herói?) Microondas Man tem um tempo para pegar o fôlego antes do mergulho sem volta que daria, e, neste momento, ele aproveita para conhecer a equipe, composta por Cafeina Man, Morcego Man e Gremlin Woman, além do misterioso Irrelevante Man, com quem se embrenharia numa demanda mais improvável que bater as metas todas as metas anuais. O trecho abaixo, retirado do livro, narra exatamente este momento:
“Nessa convivência diária pude conhecer e interagir com o grupo que participaria da empreitada. Muitas vezes, ao fim do expediente, conversava com o Doutor sobre assuntos variados que acabavam descambando para o seu plano de um retorno glorioso da boa e velha GlobalMart. Todo esse tempo permitiu estreitar os laços com os demais membros da equipe.
Cafeína Man. Sim, já nos chamávamos pelos nossos codinomes. “Facilitava a integração da equipe”, dizia o Doutor. Olhos sempre arregalados e movimentação irrequieta eram sua marca pessoal. Certa vez, no corredor, imaginando as megalomanias do nosso mentor sobre superpoderes, encontrei-o e não resisti:
— Certo, Cafeina Man, e o que são exatamente seus superpoderes? Beber café além da capacidade humana? — perguntei-lhe seguido de um sorriso solitário enquanto conferia alguns dados no mural.
— Isso mesmo. Também posso beber café de forma ilimitada. — Quando me virei para entender o que ele queria dizer com isso, ele já não estava mais lá. Mais tarde descobri que ele parecia ter desenvolvido uma espécie de hipervelocidade graças aos superespasmos musculares involuntários provocados pelo excesso de cafeína além do imaginado em seu sistema nervoso.
Conversar com Morcego Man era mais complicado, não que ele fosse retraído, pelo contrário, fazia o tipo bonachão e bem-humorado que contrastava com sua cara de gangster com o queixo quadrado e crateras deixadas pelas espinhas quando adolescente. O difícil era encontrá-lo no setor, fosse qualquer hora ou dia, nunca sabíamos aonde e quando ele estaria presente. Seu superpoder era a incapacidade de rastreá-lo ou descobrir seu paradeiro de antemão. Principalmente na empresa.
Por último, mas não menos importante para nossa jornada, contávamos com a Gremlin Woman. Seu nome heróico no crachá se referia a certas criaturas mitológicas, os tais gremlins, que tinham como um dos poderes a capacidade de danificar tecnologias. Daí passei a entender por que ela, em toda empresa, era a única que trabalhava com uma máquina de escrever, ao invés de um computador. Ainda assim, era mais produtiva e eficiente nas planilhas que boa parte de seus pares em seu antigo setor. Ao que parece, teríamos um quinto integrante, o tal Irrelevante Man, mas que, nas palavras do Doutor, “apenas fez jus ao nome”. Talvez sua iniciativa em abandonar essa canoa furada indicasse, além de sensatez, mais coragem do que todos ali.
De qualquer forma, o fato é que eu já tinha embarcado, sem retorno ou garantias de chegada ao final da viagem.”
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