Um grupo de jovens e inocentes estagiários partem em busca da efetivação e acabam no meio do maior e mais antigo conflito setorial conhecido. Esse é o mote principal do capítulo 06 do meu futuro livro, Monkey S/A: num mundo corporativo tão tão distante.
Ao longo da história, três amigos estagiários percorrem a empresa e vivem uma aventura inesperada em busca de suas efetivações. O trio, formado por Onírica, a esfuziante unicórnia, Bamboo, o panda bonachão e Algodoce, o algodão doce mal humorado, terão que lidar com situações, cenários e gestores jamais mencionados na semana de integração, como Berserk, chefe do Pós-Vendas…
“Berserk parecia um executivo dos anos sessenta com direito a manchas amareladas nas axilas da camisa branca. De corpo esguio e desconjuntado, seus pequenos, mas raivosos olhos negros se sobres saíam como faíscas de fogo do emaranhado de pelos formado por seu bigode, barba e cabelo que aparentavam uma se uma coisa só.
Onírica se adiantou: — Somos os seus novos estagiários. Acabamos de chegar da ambientação e estamos ansiosos para contribuir com o Pós-Vendas, Sr. Berserk, não é pessoal? — Um silêncio constrangedor se fez presente por alguns instantes dando lugar em seguida a um indisfarçável arrependimento estampado no sorriso sem jeito dos seus amigos por estarem ali.
Berserk olhou para seu assistente sem nada entender. Este logo lhe veio em auxílio e cochichou em seus ouvidos: — Sr., somos obrigados pela empresa a cada ano termos um estagiário no setor. No ano passado o RH começou a desconfiar que aquele boneco feito de caixa de papelão na minha sala, talvez
não fosse um estagiário, então, para não sermos descobertos fora das regras, decidimos contratar três estagiários vivos de verdade, se lembra?
Berserk coçou seu bigode-barba-cabelo indicando uma vaga lembrança — Krig, acho que me recordo. Mas… para que mesmo? — quis saber o gerente.
— A empresa acredita serem talentos brutos para lapidação e transformação em futuros profissionais de ponta. Mas, na prática, os usamos para economizarmos em contratação e para a realização de tarefas repetitivas e maçante ainda não cabíveis para as máquinas. — respondeu a pálida figura.
— Ah, é? Hã, oi, hã, hã. Certo, então vamos começar. Muito bem, hoje estão dispensados. O dia já foi muito cansativo para vocês, muitas novidades e informações. Vai confundir e atrapalhar o aprendizado de vocês. Por hoje estão dispensados, voltem no próximo ano. — ordenou o chefe.
— Dia. Amanhã, Sr. Berserk. — krigor o corrigiu, reforçando seu posto de mal necessário.
Algodoce quis comentar terem somente assistido uns vídeos monótonos e provado uns quitutes frios pela manhã durante o onboarding, mas recobrou a consciência e ficou em silêncio ao ver Berserk se levantar em direção a mureta do mezanino e, aos berros, voltar a cobrar os resultados do setor.
Mudos e ignorados, os estagiários deixaram a sala do gestor e atravessaram o Pós-Vendas em meio a um turbilhão de emoções e guimbas de cigarro que saltavam das lixeiras entupidas. Acostumados a uma palavra positiva de Onírica em momentos constrangedores como estes, a líder do trio, que seguia calada até então, sacou seu Tablet Zora e buscou por uma das suas mensagens motivacionais pré-gravadas para quebrar o gelo. Para sua satisfação, o equipamento foi cirúrgico:
“Amanhã é um novo hoje para fazer outro amanhã melhor!”
E sob a positividade aleatória da tecnologia se despediram com os corações repletos daquela esperança que acalenta, mas que quase sempre traveste certo remorso até entre os mais jovens”