Você é o seu crachá!

Você é o seu crachá. 

Antes de andar, às vezes até mesmo de balbuciar alguma coisa sem sentido, já somos perguntados o que seremos quando crescer: nada de bom homem, mulher, médico, bombeiro, astronauta, chefe de DP, coach quântico!

No metrô, cerca de muitos anos-luz de distância da empresa no centro da cidade para onde a massa se dirige, vejo vários trabalhadores com seus crachás já expostos, Alguns os trazem como verdadeiras forcas no pescoço, pelo semblante de seus rostos cansados. Outros, como medalhas da mais alta honraria. Uma vez perguntei a um amigo por que estava de crachá no vagão. “me sinto meio pelado sem ele.” A tá.

Se o repórter encontra alguém na rua, após o constrangimento inicial de não querer aparecer mas ao mesmo tempo não saber dizer não, a sequência das perguntas não foge disso: “Teu nome? Ciclano. O que você faz? A claro tô vendo aqui no seu crachá”.

Num encontro, daqueles que estão no comecinho, iniciozinho de paquera, e tal  (Deus, quem ainda usa paquera na vida…) vocês se sentam à mesa, banquinho e após a simpatia protocolar inicial, o papo geralmente começa com um: “e aí , você trabalha em quê? Sou contador. A legal, mas você sabe fazer Proc-V?”.

Semana passada na novela das 9, que tá pegando fogo, durante o enterro de um dos personagens principais, o padre começa a narrar o acontecido assim: “Fulano, ADVOGADO, bom filho, papapá, popopo…”

Num encontro, daqueles que estão no comecinho, iniciozinho de paquera, e tal  (Deus, quem ainda usa paquera na vida…) vocês se sentam à mesa, banquinho e após a simpatia protocolar inicial, o papo geralmente começa com um: “e aí , você trabalha em quê? Sou contador. A legal, mas você sabe fazer Proc-V?”.

Outro momento muito importante na vida de muita gente, o casamento, também segue mais ou menos o mesmo padrão. Diz o cerimonialista: Fulaninha, administradora, pipipi, popopó. 

Semana passada na novela das 9, que tá pegando fogo, durante o enterro de um dos personagens principais, o padre começa a narrar o acontecido assim: “Beltraninho, advogado, bom filho, popopó, pipipi…

“Conhece Ciclaninho., Quem, Ciclaninho, advogado, aquele que fazia doação e dedicou a vida ao próximo, cuidava dos animais e das árvores em extinção também. Ah, sei, lembro, é funcionário público, né? Isso, morreuuu.”.

E por aí vai. A gente encontra várias teorias que podem embasar esta afirmação nos campos da Economia, Psicologia ou da Antropologia. Me faço de dublê de psicólogo organizacional e sapeco o seguinte:

Todos nós temos nossas máscaras (é do ser humano) e os crachás são uma espécie de segunda pele. Nesta sociedade/sistema econômico em que vivemos, o crachá (profissão, assinatura de e-mail/uniforme, etc) é um rótulo social do você produz, onde produz e como produz, o que designa, perante ao coletivo, sua classe, seu poder de acesso, ascensão, poder, alcance de consumo e influência. Nessa moderna corrida dos ratos, perigam até a nos definir como humanos.

Um dos escritores  que gosto muito, Alex Castro, inclusive “brinca”  com isso, de que não é importante a bio de quem escreve, do autor, e sim a obra, a benesse que ela pode gerar, independente da carteirada de seu autor: Com vocês, ele:

O que importa são as ideias sendo expostas, não a pessoa que as está expondo. Você, a pessoa destinatária, é muito mais importante do que eu, a remetente. É você que decifra, interpreta e contextualiza a mensagem. Meus textos vão dizer o que você disser que eles disseram.

Mas a ficção serve, entre outras coisas, para mostrar às pessoas leitoras que tudo é ficção. A verdade não existe. Tem coisa mais ficcional do que o telejornal da noite, do que um livro de História do Brasil, do que uma biografia de celebridade? É tudo mentira. Tudo. O tempo todo. Especialmente as coisas que batem no peito para se afirmarem verdades verdadeiras.”

Especialmente as coisas que batem no peito… 

Você é o seu crachá?

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