Tinha acabado de sair do programa de futuros líderes e participei de um processo seletivo interno para um cargo em aberto. Sou péssimo com datas, mas me lembro que estava no auge da minha marra pseudo-intelectual (noossaa) formada por leituras descoladas e bad boyzismo do tipo Maverick de Top Gun I, saca?
Aí a gestora perguntou: “Quais são os seus defeitos?” Aquela pergunta já manjada. Sem titubear, tasquei:
“Não gosto de receber ordens!” Aquela resposta estúpida e descacetada da cabeça.
Abatido logo de primeira. Nem cheguei a decolar.
Esta ação de sincericídio, que tinha mais de ignorância e soberba (e burrice) que sinceridade, muito provavelmente teve relação com a idade e as influências/referências pessoais da época. Naquela época, bem mais forte e veloz que qualquer mocinho de cowboyde cowboy, parecia que eu era o próprio rei sobre a montanha, quando não passava de um aldeão no ermo sopé. O tempo passou e nada como uns bons socos da vida no esôfago pra gente ficar esperto. Leia-se: amadurecer ou, ao menos, trabalhar diariamente o senso de ridículo.
Conforme apregoado no Manifesto Monkey S/A, o Mundo Corporativo é um microcosmo do nosso mundo, um recorte. E, de forma geral, o mundo é bem escroto, logo…adivinhe? E Uma das principais chagas, e que não faz distinção alguma entre o meio externo e o corporativo, os assolando por igual, é a arrogância, herdeira mimada do orgulho e da vaidade.
Vide o meu exemplo citado, que no caso, vai lá, teve um componente de inexperiência, verdade. Mas o buraco da nocividade desta pragas é muito mais embaixo e não se limita a ações pessoais estúpidas cujas consequências atingem somente ao seu portador.
Empresas são um terreno fértil para essa trindade. Muitos dos conflitos entre os colaboradores bebem dessa água: falta de comunicação, assédios de todo tipo, resultados abaixo do esperado, tensões nucleares entre marketing e vendas, desperdício de dinheiro com projetos e decisões egóicas, vixe, a lista vai longe e tenho certeza de que cada um aqui já presenciou, ouviu e pior, vivenciou alguma situação corporativa deste tipo.
Os Erreagás tentam fazer sua parte com políticas e códigos de conduta internos. Mas trata-se de mazelas intrínsecas a todos nós, seres humanos, e não existe essa de que do lado de fora da empresa sou um babaca, mas dentro, me transformo na reencarnação de Buda de gravata. E a coisa se complica ainda mais quando fatores como poder e influência são institucionalizados e acessíveis somente a grupos restritos ou pesoas específicas.
Paradoxalmente, adoramos ver tudo isso nos enredos e personagens fictícios. Michael Sott (The Office), Dr. House (House) e Miranda Priestly (O Diabo veste Prada) apenas para citar alguns. Nos divertimos e amamos tais personagens muitas vezes pelo pior que possuem.
Mas gente babaca só legal na ficcção. Na vida real são só babacas mesmo.