É bem capaz que você já tenha passado por este teste quentíssimo aí na sua empresa, com algumas queimadurinhas de primeiro grau. Ou, quem sabe, tava pilotando o respectivo “fogão”. Enfim, o fato é que a “Fritura” segue quente e saltitante desde os tempos mais primórdios do mundo corporativo.
Fritura é um termo utilizado nas empresas para designar quando uma/um funcionário está sendo gradualmente (ou não) minado em suas atribuições profissionais até o desfecho quase inevitável de uma demissão ou pedido para abandonar a quadra. Trágico, como diria o Sr. Omar e os cozinheiros de plantão.
A Fritura pode ser explícita, mas, geralmente, é mais na surdina, nas sombras, nos detalhes aonde mora e se delicia o diabo com a maquiavelice corporativa diária.
O site Opinião RH, numa citação a revista Você S/A, exemplifica de maneira muito didática, algumas situações que indicam que a chapa pode estar esquentando para algum mártir interno de plantão:
“Você não é mais convocado para as reuniões, ou não é convidado para os momentos em que a equipe socializa. Nas reuniões de que participa, suas intervenções são recebidas pela chefia com indiferença ou impaciência. Seu chefe deixou de se preocupar com seu trabalho e até de lhe cobrar quando algo não ocorre conforme o previsto. Seus colegas recebem da chefia um tratamento mais atencioso e simpático. Informações estratégicas e novas diretrizes não têm sido comunicadas a você. Em vez de lhe dar ordens, o gestor opta por repassá-las a seus subordinados ou por transferir a tarefa a seu colega. Sua chefia começa a estabelecer para você metas impossíveis de serem alcançadas. O gestor tem reclamado de falhas suas com outros. Seu chefe o sobrecarrega com atividades de menor importância ou começa a lhe passar tarefas de áreas fora de sua competência, nas quais seu desempenho é limitado.“
Quem nunca?
Sim, a Fritura é escrota. Uma prática covarde, injusta e baixa. Seus danos profissionais as vezes não se restringem somente a empresa e tomam proporções no próprio mercado de trabalho daquele/a profissional. A coisa toda facilmente descamba para a vida pessoal, atingindo a saúde física e mental do/da infeliz em cheio.
Masss, não se enganem. Se existem grupos humanos reunidos, a disputa por poder e interesses sempre estará também, envolvendo alianças e tramóias, políticas e politicagens, maquinações, jogos e joguetes. Se desceu pro Play é quase certo que também poderá se queimar nesta brincadeirinha.
Lembre-se, uma mba em Harvard ou anos de experiência corporativa não garantem caráter a ninguém, apenas conhecimento e experiências técnicas para fazer jus ao salário. E isto não é um sinônimo de empatia ou humanidade. Não é porque se está numa empresa top-top que, determinadas falhas no trato social e com o próximo, não serão manifestadas, principalmente neste meio em que, apesar das regras, governanças e manuais éticos com imagens genéricas do Pixabay, todos sabemos o quanto a realidade pode ser bem diferente do idealizado devido as diferentes relações de poder e influência que fazem a corda arrebentar sempre para o lado do mais fraco.
Microondas Man, o terceiro capítulo do Livro Monkey S/A, em que um executivo, por acidente, ganha competências excepcionais e passa a enfrentar vilões com habilidades profissionais igualmente fantásticas, tem, como pano de fundo, exatamente a fritura interna nas empresas. A ficcção sempre imita a realidade.
Conflitos e a humanidade caminham lado a lado, afinal, somos seres sociais, desejantes e diferentes (dentro do possível). Se, em células menores alicercadas pelo lanço sanguíneo, leia-se, famílias, não raro ficamos a par de conflitos que não perdem em nada aos melhores capítulos de Game of Thrones, quem dirá, dentro do dia a dia tresloucado ds organizações. Só no mítico e colorido mundo corporativo pintado por muita gente coisas assim não existiriam. E ainda assim teria minhas dúvidas.
Não se engane, SEMPRE haverão os embates internos, os confrontos, seja por uma mesa mais sofisticada ou pela diretoria. A questão é, siga a diretriz do bom combate e não se valer de métodos e subterfúgios desleais, desonestos e unilaterais, o que caracteriza a dita cuja fritura.
Não gabaritei, mas já marque uns terno da vida no bingo dos indícios citados acima do referenciado portal. Após uma fusão, a chefia imediata e a geral do novo setor, agora, unificado, acabaram sob a condução de duas profissionais oriundas da nossa antiga ex-concorrente. No início tudo eram flores (com espinhos), porém, com o passar do tempo, as diferenças pessoais e profissionais se tornaram mais acirradas e a situação como um todo beeemmmm mais esquisita. E, como uma receita de bolo, alguns dos relatados tópicos da lista de indícios da fritura foram seguidos a risca, em especial o: “não ser chamado para contribuição nas novas ideias e projetos” e “ser preterido e posto de escanteio em algumas funções“.
E tudo como se nada estivesse ocorrendo…
Na ocasião, ainda tateando pelo labirinto corporativo, fiz o que deveria ser feito: peguei a minha violinha, enfiei no saco e saí pelo mundo a procura das próximas desventuras organizacionais. Então, abiguinhos e abiguinhas, fiquem atentos ao sinais, pois, na maioria das vezes, o cozimento começa em banho-maria, o que permite uma defesa ou reação mais rápida e eficaz do que quando o fogo já esta alto e as ocupadas pessoas na sala de jantar já salivando.