Ma rapaz, se tem algo cada vez mais difícil nesse nosso mundo de constantes mudanças em ritmo acelerado aos padrões humanos é a “previsão do futuro“, do que vai acontecer, do que é moda, coisa corriqueira ou tendência do que vai se estabelecer no mundo empresarial.
Um mundo repleto de novidades e conteúdos com seus respectivos quinze segundos de fama e atenção, variáveis quase infinitas acontecendo ao mesmo tempo agora o tempo todo.
Planejamentos de longo prazo se tornam obsoletos devido a este cenário mutante. Tem muita gente que nem faz mais planos estratégicos com cinco, três ou mesmo dois anos de duração por causa destas metamorfoses sociais, econômicas, tecnológicas e culturais.
Alguns meses atrás eu lia, ouvia, via um monte de especialistas falando da necessidade das empresa criarem estratégias, pra ontem, para lidarem com as últimas novidades e modernices que despontavam no horizonte dos negócios. Todas sempre tidas como o mais novo business must, o Graal da vez, que condenaria a todos aqueles que não bebessem de suas águas vanguardistas ao fogo eterno da falência.
Isso até o próximo hit da estação. E de novo.
E de novo.
Saber o que vai acontecer é difícil, meu povo. É uma disciplina, um campo de conhecimento. Requer muita técnica, dados, metodologia, profissionais variados. E mesmo para esses especialistas a coisa nem sempre bate. O que é normal. Mas o que me incomoda é quando isso ocorre via pitaco endossado pelo viés da autoridade.
Viéses são erros cognitivos por causa de pré-julgamentos que todos nós realizamos e que não batem com a lógica. Existem vários tipos de viéses e um que encontramos facilmente no meio empresarial/profissional é o viés de autoridade.
É chamado de viés de autoridade (ou authority bias) uma falha de lógica humana que faz com valorizemos sobretudo as opiniões, análises e conselhos de especialistas, ainda que contrariem as nossas próprias opiniões, análises e conclusões.
Deu pra entender mais ou menos? Se fulano, que possuiu uma certa autoridade em um determinado assunto, dá seu pitaco sobre um certo tema, mesmo não pertencente a área que ele domina, nós, menos veersados no asunto, temos a tendência a achar tal opinião mais relevante e com peso maior simplesmente pelo fato de fulano ser uma referência.
É bem possível que ao longo de sua vida profissional você já deva experimentado algo assim em alguma reunião, grupo virtual ou processo decisório do setor com seus superiores, né non? Tirando o fator “manda quem pode, obedece quem tem juízo“, muito provavelmente você já caiu nesta cilada.
Um momento em específico em que vimos isso acontecer a torto e direito foi na época da epidemia do Covid. Muita gente que de alguma forma possuia algum tipo de evidência social, o que para muitos significa autoridade, trataram logo de semear os campos da mente do povo assustado com uma séries de argumentos e raciocínio freestyle como se fossem superiores e mais embasados do que projetavam os pesquisadores, cientistas e reais especialistas sobre o assunto.
Entre muitos, o primeiro que ouvi, logo no início, e que me marcou foi de uma conversa vazada entre o Roberto Justus para o Marcos Mion. Link da Veja abaixo:
O cara é microbiologista? Especialista em saúde pública? Epidemiologista? Tem experiência na área, formação? Atuou anteriormente em algo semelhante obtendo a expertise necessária para apontar os procedimentos a serem tomados cientificamente?
Não. Mas, assim como ele, muitos outros chutadores formadores de opinião com autoridade social, deram sua parcela de chorume informacional ajudando a influenciar negativamente as pessoas a não considerarem as orientações dos verdadeiros especialistas. E todos nós sabemos o mal que este tipo de declaração ajudou a gerar.
O segundo caso, menos nocivo da junção entre bola de cristal e viés de autoridade, ainda no período da pandemia, tem uma natureza mais mercadológica. Diz respeito as lives musicais online e o mercado de entretenimento. Dá um Google em textos da época e você verá o quanto se alardeava que o mercado de shows musicais nunca mais seria o mesmo graças as lives que chegaram arrebatando o coração enclausurado de todos.
Pouco tempo depois ninguém aguentava as setenta e duas lives diárias que eram socadas na gente.
Sim, existe um mercado aí a ser explorado, nichado. Tem gente, artistas grandes se apresentando via streaming de jogos, por exemplo, mas longe de ser um modelo de negócios simples, de fácil consumo e retorno do tipo liga a câmera, grava, bota o qr code e vamos faturar.
Perceba: o problema não é a pessoa ter um insight, opinião, juntar as informações e compor um cenário e acenar para essa possível configuração de futuro. O que me eriça as sobrancelhas são aqueles, muitos deles inteligentes e esclarecidos, que projetam seus pontos de vista como verdades absolutas em um mundo em que tudo que não temos é certeza.
Outros dois fatores entram em campo para embaralhar ainda mais este jogo nestes tempos modernos. O primeiro é a profusão de tecnologias de comunicação em larga escala: apps, redes sociais, sites, plataformas, fica ao gosto do freguês. Todos podem ser ouvidos. O segundo é o fenômeno cultural, que ganhou força com a internet, das pessoas desejarem opinar sobre tudo, qualquer assunto, do derretimento das geleiras suíças a chá de revelação da subcelebridade da vez. Qualquer um pode falar. Juntou-se a fmoe coma vontade de comer.
E claro que os profissionais e mundo corporativo, uma bolha do mundo externo, não iria ficar atrás dessa belezura.
Então, abiguinhos e abiguinhas, o recado de hoje do Gorpo e da Drielle é o seguinte: bebam água, planejem a curto prazo e pé atrás, os dois, com os senteciadores vindos do futuro de plantão.