Um estudo do Gallup traz alguns dados sobre o bem-estar do funcionário nas empresas. A ideia central do texto: quanto maior o bem-estar do colaborador maior o impacto positivo disto na performance da empresa, de uma forma em geral. O report pode ser lido aqui.
Quando o bem-estar de seus funcionários está prosperando, sua organização se beneficia diretamente – eles faltam menos dias de doença, apresentam melhor desempenho e têm taxas mais baixas de esgotamento e rotatividade. Mas quando o bem-estar de seus funcionários sofre, o mesmo acontece com os resultados de sua organização. Alguns números trazidos pela empresa de pesquisa:
“Apenas 24% dos empregados que suas organizações cuidam do seu bem-estar em geral“. Dados que quando cruzados com os levantados de outro relatório que informa que 77% dos empregados americanos estão na vibe do quiet quitting ou totalmente desenganjados no trabalho, aumentam a percepção do tamanho do buraco em que as empresas estão se metendo.
Certo, sim, tem toda uma parametrização, ferramental, estudos qualitativos e quantitativos para as conclusões do trabalho. Mas, na boa, isso é de uma obviedade singular. Acho que até o próprioTaylor relacionaria o bem-estar dos trabalhadores, se esta preocupação existisse na época, a produtividade da empresa. É um raciocínio quase que instintivo e de conhecimento comum entre funcionários e gestores.
Cuidar do bem-estar do colaborador traz benefícios em relação aos custos médicos, ganha-se produtividade com a pró-ativividade da satisfação, evita perdas com a rotatividade e baixo rendimento. Gera um clima organizacional mais saudável e predisposto a engajamento. Enfim, as benesses são muitas e variadas.
Então, se a parada é de senso comum, só traz resultados positivos pra todos, então por que cacetinhos voadores, ainda nos dias de hoje, uma das maiores e mais tradicionais empresas de informação, o Gallup, precisa, em uníssono com outras fontes confiáveis de conhecimento, vir e falar em alto e bom tom:
O BEM ESTAR DO FUNCIONÁRIO NO AMBIENTE DE TRABALHO É A CHAVE DA PRODUTIVIDADE.
Diz aí, por quê?
Tenho algumas suspeitas e linhas de raciocínio básicas que me parecem fazer algum sentido para mim.
1. CUSTOS
Nossaaaa, descobriu a pólvora. Mas é uma das razões. Cuidar do bem-estar real dos colaboradores custa tempo, recursos humanos, mão-de-obra, materiais, fornecedores, espaço, investimentos e, o que as vezes é o mais caro, boa vontade. Nem toda empresa tem isso para gastar. Nem toda empresar quer gastar com isso, independente do que diz o Gallup ou a caixinha empoeirada de sugestões.
Lembro-me de uma empresa de terceirização de atendimento telefônico que tinha, em um dia da semana, um serviço de massagem para meia dúzia de sorteados em toda a operação. Ok, ok, bacana, belo esforço, boa tentativa mas isso (e similares) tem tanta relação com um projeto real de cuidado dos funcionários quanto a distribuição de analgésicos.
2. INTANGIBILIDADE DO ROI
Esse motivo diz respeito a pouca percepção de valor neste tipo de investimento e seu retorno, por não ser algo tangível, fácil de mensurar ou de resultado material. Existem réguas, métricas e ferramentas que possibilitam apurar o ROI do bem-estar interno, mas, ainda assim, para muitas das lideranças o método para demonstrar a recuperação do valor investido ainda não está de todo claro.
Existe uma diferença bem grande, quase tátil, do retorno gerado sobre o custo de um recurso mais palpável, como um caminhão, imóvel ou mesmo um sistema de folha de pagamentos, por exemplo. O benefício conseguido é visível, direto, sem rodeios ou justificativas complexas.
3. RETORNO A LONGO PRAZO
Os gestores buscam e são cobrados diariamente por resultados a curto prazo. O mundo muda a todo instante: cenários, política, tecnologias, concorrentes, mercados. A velocidade com que estas mudanças podem acontecer acabam por inibir ações cujo resultado possa levar muito tempo para ser visto. O próprio planejamento estratégico, ferramenta fundamental para guiar os negócios, antes com prazos extensos para execução, agora possuiu uma duração mais curta em boa parte das empresas.
Então imagine essa pressão e imediatismo sobre um investimento que, na maioria das vezes, irá gerar retorno a médio e longo prazo. E que, na mente de muita gente responsável por patrocinar ou liberar a verba, não é lá tão palpável e garantido assim, além do medo da responsabilização e dedos apontados por investimentos “desnecessários” ou sem justificativa de vantagem concreta neste gasto.
Sim, todos estão carecas de saber o quanto o cuidado com o bem-estar das pessoas dentro das empresas faz com que engajem mais com os objetivos do negócio, que passa a ganhar mais produtividade. O problema é que neste tema, assim como em muitos outros assuntos do mundo corporativo, existe um verdadeiro abismo entre teoria e prática.