Gestão do Tempo? Sem tempo, irmão.

Tempo, tempo, tempo, tempo, ouça bem o que te digo: Não tá dando parceiro! Pega leve! Passe mais devagar porque as demandas são muitas e a gente, como bons idiotas, achamos que podemos dar conta e entregar tudo. E pior…

…tentar um pouco mais.

Eu tive um colega de trabalho muito gente boa e que possuía uma invejável vibe slow motion, que, assim como no texto sobre o riso os muito sorridentes nas empresas (se você não leu, clique aqui), não significava se tratar de uma pessoa boba ou passiva, muito menos um profissional inferior, pensamento errôneo que atrela expansividade a vigor e performance, quase uma virtude celestial.

Certa vez, tomando um café no corredor da empresa, meu colega se encostou na quina da parede e começou a coçar as costas, ali mesmo, sem cerimônia. Quase uns bons cinco minutos sorvendo o café e aliviando o comichão enquanto falava. Uma cena de dar inveja até no elefante mais velho do Quênia.

O rapaz tinha o seu próprio tempo. A empresa, o dela. O bicho podia tá pegando que ele continuava focado em seu passo e serenidade butanesca. Me parecia impossível dar conta daquele montante de tarefas naquela velocidade. Organização, disciplina, constância, não tenho idéia, o fato que ele fazia acontecer o resultado. Como Gandalf, o Cinzento, nem adiantado e nem atrasado, sempre no momento exato em que deveria entregar.

Mas, sim, trata-se de um ponto fora da curva. O tempo também é algo escasso no mundo corporativo. Os cursos de gerenciamento do tempo, que pipocam desde os anos noventa, estão mais vivos do que nunca e aí para provar que a coisa tá feia. Eu até faria. Se tivesse tempo. Afinal, as solicitações internas crescem de forma inversamente proporcional ao número de pessoas mínimamente necessária para realizá-las.

E claro, toda essa correria, de uma forma geral, não se limita ao universo do trabalho, apesar de sua influência e controle sobre boa parte do que fazemos e, até de quem somos, muitas vezes. na vida pessoal, no nosso dia a dia particular, a necessidade de lidar com o tempo escorrendo sobre nossos dedos é bisonhamente similar. Filhos, estudo, lazer, relacionamentos, obrigações, cobranças, sonhos. A lista é longa e não caberia neste texto.

E a pergunta vinha: biologicamente, estamos preparados para isto?

Não! Um bom e sonoro não. Nós, ou melhor, muitos de nós, pois tem um pesssoal bom abdicando dessa roda de hamsters, fazemos porque tem que ser feito, é a realidade da nossa sobrevivência ou o preço cobrado pelo estilo de vida escolhido. Seja como for, nosso cérebro não é uma máquina, um dispositivo, não é uma musculatura e sabemos muito bem o resultado deste volume insano de cobranças e aceleração desenfreada ao nosso corpo e psiquê.

Muitos estudos, publicações, livros e relatórios têm sido produzidos sobre o tempo e a nossa atual relação com o acúmulo de ocupação, seja de trabalho ou pessoal. Este será um assunto sempre presente por aqui. Autores como Byung Chul Han, de Sociedade do Cansaço e os maravilhosos André Alves e Lucas Liedke, do podcast Vibes em Análise, são fontes de referência sobre muito do que penso e que podem ser um ponto de partida, por ora, caso você queira se enveredar nesta seara.

Introvertidos, de uma forma em geral, tendem a ter menos compromissos ou exposições sociais. Principalmente quando estão ficando velhos e chatos, como eu. Logo, a escassez do tempo lhes impacta bem menos do que seus convivas mais sociáveis.

Nada poderia ser mais errado.

Aqui entra a segunda variável indissociável do tempo, quando falamos da sua falta: a atenção.

A moeda mais valiosa da atualidade. São tantos os impulsos, tantas luzes, cantos de sereia ao mesmo tempo, o tempo todo e de todos os lugares que, todos nós, indiferente de personalidade, não ficamos impassíveis a todo este tsunami informacional, e que pode nos gerar certa ansiedade caso não haja uma certa disciplina quase espartana para lidar com tal fluxo.

Novamente, não estamos programados biologicamente para isso. A abundância de estímulos acaba por gerar o mesmo desconforto emocional da sua contraparte, fazendo o mesmo papel asfixiador da sensação de insuficiência do tempo.

Falaremos mais disto adiante e, se começamos com Oração ao Tempo, de Djavan, fecharemos a tampa deste texto introdutório a tanta complexidade com Efêmera, de Tulipa Ruiz.

Cronos com certeza sorri satisfeito.

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