“Você tem que se vender mais!”
Foi o que ouvi da gerente geral após minha apresentação ao final de nosso programa de capacitação de líderes. Criei um roteiro e apresentei um stand up sobre os perrengues do nosso cotidiano na empresa. Gostaram tanto a ponto de ser compartilhado até para outras unidades.
Éramos um operação de vendas que rodava num imenso salão com todas as equipes reunidas. Três turnos geridos por estilos de liderança diferentes. Bem, eu ia meio na contramão de toda aquela agitação esfuziante que você imagina num departamento de vendas, meio tímido espalhafatoso e mais velho que meus pares.
Certa feita tive a sorte de trabalhar com uma equipe de pessoas mais seniores, introspectivas, práticas e focadas em ganhar dinheiro. Foi o match perfeito. Tivemos várias conquistas, em especial fui o gestor que venceu uma longa campanha de vendas estipulada pelo cliente.
Sim, o apagadinho.
“Você tem que se mostrar mais!” Sim, de novo, como diria Morpheus.
Nem só de números, resultados e entregas vive a ascensão profissional. Certas técnicas, comportamentos, posturas e habilidades sociais (e estômago) de autopromoção, marketing pessoal, política e networking interno (e externo) são algumas das ferramentas e processos muito eficientes para abrir a mata fechada da trilha da promoção. Normal, faz parte do jogo e estão disponíveis, quase sempre, a quem quiser jogar.
Sim, eu sabia o caminho das pedras. Tinha noção do que precisava fazer para ser “mais visto”. Mas não tava muito a fim, não. Tava bom ali, naquele período quentinho e fofinho, de boa com o meu pessoal que só queria vender mais os produtos e serviços do que a si próprios. Não era comodismo, era decisão. E nem tão incomum assim.
Tava lendo um estudo do Insper que cita uma pesquisa da Harvard Business Review em que, de 3.625 profissionais de diversas posições hierárquicas e trabalhando tudo quanto é tipo de empresa, apenas 34% quer se tornar líder e só 7% ascender a uma posição no C-level. O mesmo estudo evidencia que as pessoas com maiores preocupações sobre promoção sinalizam menos para seus superiores sua intenção e prontidão para ser promovidos, bem como estimam um tempo maior até a próxima promoção.
Bingo!
Na maioria das vezes, este tipo de renúncia não tem relação com ambição. Tem a ver com qualidade de vida, momento, relacionamentos, visão de mundo, mudanças, nível de identificação com o propósito, as pessoas e a própria empresa, novos sonhos e interesses, respeito aos limites físicos e emocionais. Dependendo do período da vida em que a pessoa se encontra, isso pode pesar bem mais que um cargo de nome sexy acompanhado de losartana toda manhã.
Afinal, tudo na vida são escolhas com ônus e bônus envolvidos.
Não dá para servir ao comercial e ao marketing ao mesmo tempo.
Até dá, mas isso é uma outra história…